sábado, 4 de dezembro de 2010

Crônica

                                  Ouvidos privilegiados


Certo dia, conversando com um amigo, músico independente e tarimbado, confesso que fiquei deveras surpreso com o que me disse, enfaticamente:
- não me preocupam, e tampouco me influenciam, as críticas, sejam boas ou desfavoráveis, dos amigos músicos acerca dos meus trabalhos!
Antes devo dizer que a temática central de nossa conversa era a arte, especialmente música e literatura.
Imediatamente interpelei-o com um barril de argumentações: mas como, se os músicos possuem maior capacidade para analisar os seus trabalhos, se providos eles de conhecimentos teóricos e práticos estão em sintonia com a qualidade ou não de uma produção musical, se detentores, eles, de “ouvidos privilegiados” conseguem captar a extensão..., blá, blá, blá...
Nesse ínterim outros amigos chegaram, uns quatro ou cinco, se a memória não me engana, e a prosa tomou rumo diverso.
Mas em certo momento, quando a madrugada já se adiantava e tencionando dormir, solicitei-lhe que apresentasse o seu CD, na ocasião, recentemente lançado.
Após analises acerca do trabalho: quem compusera as melodias, músicos que haviam participado das gravações, custo da produção, etc., adquiri, a exemplo dos outros, um exemplar.
E quando já me levantava para partir ele segurou-me pelo braço:
- Entendeste agora!
- Os amigos músicos, geralmente, não compram os meus trabalhos.

E confesso que até hoje ando a meditar sobre isso.

Um comentário:

  1. Uma prosa verdadeira. Sou escritora e poeta, pertenço a uma determinada Academia, nenhum deles compra os meus livros nem me dão a "honra" de visitar meu site. Será que é por que o site é totalmente cultural?
    Portanto, como sempre a crônica retrata o cotidiano de todos nós.

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